segunda-feira, 17 de setembro de 2018

92 Cerimônia do Cachimbo Sagrado ( Čhaŋnúŋpa Wakȟáŋ Wičhóȟ’aŋ)


                                                   ( Čhaŋnúŋpa Wakȟáŋ Wičhóȟ’aŋ)
 Antes de falar sobre a cerimônia, é importante falar da  mistura de plantas de poder para ser queimada no Cachimbo. O Cachimbo é considerado o mais sagrado Instrumento de cura d’Alma e proteção do Povo Lakota.Quando a Mulher-Búfalo-Branco (Ptesáŋwiŋ ou  Ptehíŋčala Sáŋ Wíŋ), espiritualmente introduziu o Ritual do Cachimbo Sagrado, usava-se apenas um Tabaco de origem árabe que chegava até 6 metros de altura,  chamado “Summaq”,que crescia em território americano,  porque os indígenas americanos ainda não conheciam o Tabaco Ocidental que temos no Brasil: “Foi essa Mulher-Búfalo-Branco que trouxe o Cachimbo Sagrado para que o Povo Lakota tivesse essa ajuda espiritual = Lé wiŋyaŋ kiŋháŋ Ptehíŋčala Čhanŋúŋpa waŋ Lakȟóta kiŋ uŋ nípi kta čha wičhákahi.) Entretanto, como o Salgueiro Vermelho Americano é uma árvore com valores espirituais muito reais, os Lakotas passaram a usar uma mistura do tabaco árabe e a parte interna, da casca seca, do Salgueiro Vermelho Americano ( Cornus Stolonifera).
Nessa época tão distante, os indígenas americanos ainda não conheciam o tabaco ocidental. Foram os indígenas mexicanos que começaram por presenteá-los com alguma quantidade para o Ritual. Tempos mais tarde, o Povo Lakota(Lakȟóta Oyáte), passaram a usá-lo frequentemente.
O Salgueiro Vermelho Americano, chamado em Lakota de Čŋšaša (lê-se ‘tchânshasha’) também ficou conhecido com um outro nome indígena da Tribo Lakota Itázipčho de “Kinnikinnick”onde o uso da Cerimônia do Cachimbo começou. A mistura da parte interna da casca seca do Salgueiro Vermelho e o Tabaco, é chamada de Ičahitȟuŋpi( lê-se Itçarrit’rrunpi).  Há muitos estrangeiros, que erroneamente acham que Kinnikinnick é o nome da mistura para o Cachimbo. Enganam-se!
Muitos no Brasil, começaram a preparar a mistura com várias ervas para venda. Por não encontrar no Brasil o Salgueiro Vermelho Americano, o Čhaŋšaša, para fazer a mistura, pode-se usar apenas o Tabaco (Čŋlí) sem qualquer outro aditivo ou uma mistura com várias ervas.

Não é difícil encontrar no Brasil, pés de tabaco naturalmente desenvolvidos em sítios, fazendas e chácaras, cujas folhas devem ser colhidas com respeito e colocadas ao Sol para a secagem. Depois, basta esmigalhá-las com as mãos, expondo ao Sol por algumas horas, invocando a Fonte Soberana da Luz, Calor, Poder e Vida (o AVÔ SOL) e aos Mestres Cósmicos, a energia unificadora, vital, poderosa, curadora e evolutiva, no tabaco. Deve-se fazer  a consagração pedindo ao irmão, Espírito do Tabaco, a ação energética de seus poderes.
Caso seja impossível conseguir folhas verdes de tabaco, pode-se adquirir alguns gramos de fumo desfiado em tabacarias. É claro, que não é um tabaco puro, natural, cujas energias do preparo industrial, são totalmente desconhecidas, mas... não encontrando  folhas verdes, não há outra opção. Pode-se deixá-lo de molho em água de chuva por uns cinco minutos e depois secá-lo ao sol, invocando a Fonte Soberana da Luz, Calor, Poder e Vida( o AVÔ SOL) e aos Mestres Cósmicos, a energia unificadora, vital, poderosa, curadora e evolutiva, no tabaco e fazer a consagração pedindo ao irmão, Espírito do Tabaco, a ação energética de seu poder.

A Cerimônia do Cachimbo Sagrado deve-se ser aberta em pé, virado para o Oeste, erguendo o Cachimbo com ambas as mãos, acima de sua cabeça, saudando e oferecendo-a à  Wakȟáŋ Tȟáŋka = O Grande Espírito, o Grande Mistério,  a Soberana Fonte de Luz, e à Uŋčí Makȟá = Divina-Mãe-Terra. A essas alturas, o caixilho do Cachimbo já deve estar cheio de Tabaco, o qual é agora aceso para saudar ao Grande Espírito soldando uma baforada para o alto e à Divina-Mãe-Terra, soltando uma baforada para baixo.
Em seguida, nesta mesma posição, deve-se saudar o Espírito do Tabaco fazendo os seus pedidos de ajuda e soltando uma baforada.
Se você está fazendo o Ritual com outra ou mais pessoas, observe que o Cachimbo deve ser compartilhado, e somente o Guardião do Cachimbo - aquele que abre a cerimônia - deve fechá-la. Todos os participantes devem estar descalços, livres de qualquer conexão com crenças religiosas ou doutrinamentos, porque a Cerimônia do Cachimbo Sagrado é uma Cerimônia Xamânica, pagã,Espiritual, que abrirá a sua visão do Terceiro Olho, clarividência, Clariaudiência, etc., e que não se conive com crenças religiosas e doutrinas.

Ainda nessa mesma posição, virado para o Oeste, peça humildemente, agradeça e saúde a presença de Mudjekeewis, o Espírito Guardião do Oeste e o Urso. Acenda o Cachimbo e dê uma baforada.

Virando-se para a posição Norte, faça o mesmo mas saudando a Waboose, o Espírito Guardião do Norte e o Búfalo. Baforada.

Virando-se para a posição Leste, faça o mesmo, mas saudando a Wabun, o Espírito Guardião do Leste e a Águia. Baforada.

Virando-se para o Sul, faça o mesmo, mas saudando a Shawnodese, o Espírito Guardião do Sul e o Coiote. Baforada.

Após sentar-se no chão, banco ou cadeira – se estiver com um grupo de pessoas – forme uma roda. Acenda o Cachimbo, agradeça e peça humildemente a presença de Xamãs para lhe(s) ajudar nesta cerimônia evolutiva. Agradeça também a presença e a ajuda de seus ancestrais e saúde a todos os seus irmãos alados, os irmãos de quatro patas, os irmãos-em-pé(as árvores), o irmãos Povo-Pedra, etc.

O Cachimbo deve ser pitado, quero dizer, puxa-se a fumaça com sutileza e a expele da mesma forma sem deixar passar para o pulmão, em outras palavras, sem tragar. Enquanto a Cerimônia durar, deve-se mentalizar energias positivas. Se estiver só na Cerimônia, uma vez esvaziado o caixilho do Cachimbo, põe-se em meditação pois que a ação energética do Espírito do Tabaco, expande a sua consciência e lhe traga visões.Se estiver com mais participantes na roda, passe o Cachimbo da esquerda para a direita e, com um Plumeiro, faça a limpeza energética do Cachimbo antes de passá-lo. A limpeza energética deve ser feita de um a um pelo Guardião do Cachimbo que abriu e fechará a Cerimônia.

Para encerrar a Cerimônia, vira-se para o Oeste. Agradeça a presença de todos os Espíritos Guardiões de todas as direções, aos animais, aos irmãos que estiveram presentes, aos Xamãs, etc., etc. e dê-se por encerrada a Cerimônia.
Limpe-se o Cachimbo respeitosamente e guarde-o em um lugar “de honra”, quero dizer, não no fundo de uma caixa ou gaveta.

É importante que durante a cerimônia, tenha-se por perto, um pequeno vidro, lata ou plástico para cuspir o ardor do tabaco caso não esteja ao ar livre.
Prof.Thomas Thunna Kumara